Não
obstante os deveres de um profissional, os quais são obrigatórios, devem ser
levadas em conta as qualidades pessoais que também concorrem para o
enriquecimento de sua atuação profissional, algumas delas facilitando o
exercício da profissão.
Muitas destas qualidades poderão ser adquiridas com esforço
e boa vontade, aumentando neste caso o mérito do profissional que, no decorrer
de sua atividade profissional, consegue incorporá-las à sua personalidade,
procurando vivenciá-las ao lado dos deveres profissionais.
Em recente
artigo publicado na revista EXAME o consultor dinamarquês Clauss MOLLER (1996,
p.103-104) faz uma associação entre as virtudes lealdade, responsabilidade
e iniciativa como fundamentais para
a formação de recursos humanos. Segundo Clauss Moller o futuro de uma carreira
depende dessas virtudes. Vejamos:
O senso de responsabilidade é o elemento fundamental da empregabilidade. Sem
responsabilidade a pessoa não pode demonstrar lealdade, nem espírito de
iniciativa [...]. Uma pessoa que se sinta responsável pelos resultados da
equipe terá maior probabilidade de agir de maneira mais favorável aos
interesses da equipe e de seus clientes, dentro e fora da organização [...]. A
consciência de que se possui uma influência real constitui uma experiência
pessoal muito importante.
É algo que fortalece a auto-estima
de cada pessoa. Só pessoas que tenham auto-estima e um sentimento de poder
próprio são capazes de assumir responsabilidade. Elas sentem um sentido na
vida, alcançando metas sobre as quais concordam previamente e pelas quais
assumiram responsabilidade real, de maneira consciente.
As pessoas que optam por não assumir
responsabilidades podem ter dificuldades em encontrar significado em suas
vidas. Seu comportamento é regido pelas recompensas e sanções de outras pessoas
- chefes e pares [...]. Pessoas desse tipo jamais serão boas integrantes de
equipes.
Prossegue
citando a virtude da lealdade:
A lealdade é o segundo dos três principais elementos que compõe a
empregabilidade. Um funcionário leal se alegra quando a organização ou seu
departamento é bem sucedido, defende a organização, tomando medidas concretas
quando ela é ameaçada, tem orgulho de fazer parte da organização, fala
positivamente sobre ela e a defende contra críticas.
Lealdade não quer dizer
necessáriamente fazer o que a pessoa ou organização à qual você quer ser fiel
quer que você faça. Lealdade não é sinônimo de obediência cega. Lealdade
significa fazer críticas construtivas, mas as manter dentro do âmbito da
organização. Significa agir com a convicção de que seu comportamento vai
promover os legítimos interesses da organização. Assim, ser leal às vezes pode
significar a recusa em fazer algo que você acha que poderá prejudicar a
organização, a equipe de funcionários.
No Reino Unido, por exemplo, essa
idéia é expressa pelo termo "Oposição Leal a Sua Majestade". Em
outras palavras, é perfeitamente possível ser leal a Sua Majestade - e, mesmo
assim, fazer parte da oposição. Do mesmo modo, é possível ser leal a uma
organização ou a uma equipe mesmo que você discorde dos métodos usados para se
alcançar determinados objetivos. Na verdade, seria desleal deixar de expressar
o sentimento de que algo está errado, se é isso que você sente.
As
virtudes da responsabilidade e da lealdade são completadas por uma terceira, a
iniciativa, capaz de colocá-las em movimento.
Tomar a iniciativa de fazer algo no interesse da organização significa ao
mesmo tempo, demonstrar lealdade pela organização. Em um contexto de
empregabilidade, tomar iniciativas não quer dizer apenas iniciar um projeto no
interesse da organização ou da equipe, mas também assumir responsabilidade por
sua complementação e implementação.
Gostaríamos
ainda, de acrescentar outras qualidades que consideramos importantes no
exercício de uma profissão. São elas:
Honestidade:
A
honestidade está relacionada com a confiança que nos é depositada, com a
responsabilidade perante o bem de terceiros e a manutenção de seus direitos.
É muito
fácil encontrar a falta de honestidade quanto existe a fascinação pelos lucros,
privilégios e benefícios fáceis, pelo enriquecimento ilícito em cargos que
outorgam autoridade e que têm a confiança coletiva de uma coletividade. Já
ARISTÓTELES (1992, p.75) em sua "Ética a Nicômanos" analisava a
questão da honestidade.
Outras pessoas se excedem no sentido
de obter qualquer coisa e de qualquer fonte - por exemplo os que fazem negócios
sórdidos, os proxenetas e demais pessoas desse tipo, bem como os usurários, que
emprestam pequenas importâncias a juros altos. Todas as pessoas deste tipo
obtêm mais do que merecem e de fontes erradas. O que há de comum entre elas é
obviamente uma ganância sórdida, e todas carregam um aviltante por causa do
ganho - de um pequeno ganho, aliás. Com efeito, aquelas pessoas que ganham
muito em fontes erradas, e cujos ganhos não são justos - por exemplo, os
tiranos quando saqueiam cidades e roubam templos, não são chamados de
avarentos, mas de maus, ímpios e injustos.
São
inúmeros os exemplos de falta de honestidade no exercício de uma profissão. Um
psicanalista, abusando de sua profissão ao induzir um paciente a cometer
adultério, está sendo desonesto. Um contabilista que, para conseguir aumentos
de honorários, retém os livros de um comerciante, está sendo desonesto.
A
honestidade é a primeira virtude no campo profissional. É um princípio que não
admite relatividade, tolerância ou interpretações circunstanciais.
Sigilo:
O respeito
aos segredos das pessoas, dos negócios, das empresas, deve ser desenvolvido na
formação de futuros profissionais, pois trata-se de algo muito importante. Uma
informação sigilosa é algo que nos é confiado e cuja preservação de silêncio é
obrigatória.
Revelar
detalhes ou mesmo frívolas ocorrências dos locais de trabalho, em geral, nada
interessa a terceiros e ainda existe o agravante de que planos e projetos de
uma empresa ainda não colocados em prática possam ser copiados e colocados no mercado
pela concorrência antes que a empresa que os concebeu tenha tido oportunidade
de lançá-los.
Documentos,
registros contábeis, planos de marketing, pesquisas científicas, hábitos
pessoais, dentre outros, devem ser mantidos em sigilo e sua revelação pode
representar sérios problemas para a empresa ou para os clientes do
profissional.
Competência:
Competência,
sob o ponto de vista funcional, é o exercício do conhecimento de forma adequada
e persistente a um trabalho ou profissão. Devemos buscá-la sempre. "A
função de um citarista é tocar cítara, e a de um bom citarista é tocá-la
bem." (ARISTÓTELES, p.24).
É de
extrema importância a busca da competência profissional em qualquer área de
atuação. Recursos humanos devem ser incentivados a buscar sua competência e
maestria através do aprimoramento contínuo de suas habilidades e conhecimentos.
O
conhecimento da ciência, da tecnologia, das técnicas e práticas porfissionais é
pré-requisito para a prestação de serviços de boa qualidade.
Nem sempre
é possível acumular todo conhecimento exigido por determinada tarefa, mas é
necessário que se tenha a postura ética de recusar serviços quando não se tem a
devida capacitação para executá-lo.
Pacientes
que morrem ou ficam aleijados por incompetência médica, causas que são perdidas
pela incompetência de advogados, prédios que desabam por erros de cálculo em
engenharia, são apenas alguns exemplos de quanto se deve investir na busca da
competência.
Prudência:
Todo
trabalho, para ser executado, exige muita segurança.
A
prudência, fazendo com que o profissional analise situações complexas e
difíceis com mais facilidade e de forma mais profunda e minuciosa, contribui
para a maior segurança, principalmente das decisões a serem tomadas. a
prudência é indispensável nos casos de decisões sérias e graves, pois evita os
julgamentos apressados e as lutas ou discussões inúteis.
Coragem:
Todo
profissional precisa ter coragem, pois "o homem que evita e teme a tudo,
não enfrenta coisa alguma, torna-se um covarde" (ARISTÓTELES, p.37). A
coragem nos ajuda a reagir às críticas, quando injustas, e a nos defender
dignamente quando estamos cônscios de nosso dever. Nos ajuda a não ter medo de
defender a verdade e a justiça, principalmente quando estas forem de real
interesse para outrem ou para o bem comum. Temos que ter coragem para tomar
decisões, indispensáveis e importantes, para a eficiência do trabalho, sem
levar em conta possíveis atitudes ou atos de desagrado dos chefes ou colegas.
Perseverança:
Qualidade
difícil de ser encontrada, mas necessária, pois todo trabalho está sujeito a
incompreensões, insucessos e fracassos que precisam ser superados, prosseguindo
o profissional em seu trabalho, sem entregar-se a decepções ou mágoas. É
louvável a perseverança dos profissionais que precisam enfrentar os problemas
do subdesenvolvimento.
Compreensão:
Qualidade
que ajuda muito um profissional, porque é bem aceito pelos que dele dependem,
em termos de trabalho, facilitando a aproximação e o diálogo, tão importante no
relacionamento profissional.
É bom,
porém, não confundir compreensão com fraqueza, para que o profissional não se
deixe levar por opiniões ou atitudes, nem sempre, válidas para eficiência do
seu trabalho, para que não se percam os verdadeiros objetivos a serem
alcançados pela profissão.
Vê-se que
a compreensão precisa ser condicionada, muitas vezes, pela prudência. A
compreensão que se traduz, principalmente em calor humano pode realizar muito
em benefício de uma atividade profissional, dependendo de ser convenientemente
dosada.
Humildade:
O
profissional precisa ter humildade suficiente para admitir que não é o dono da
verdade e que o bom senso e a inteligência são propriedade de um grande número
de pessoas.
Representa
a auto-análise que todo profissional deve praticar em função de sua atividade
profissional, a fim de reconhecer melhor suas limitações, buscando a
colaboração de outros profissionais mais capazes, se tiver esta necessidade,
dispor-se a aprender coisas novas, numa busca constante de aperfeiçoamento.
Humildade é qualidade que carece de melhor interpretação, dada a sua
importância, pois muitos a confundem com subserviência, dependência - quase
sempre lhe é atribuído um sentido depreciativo. Como exemplo, ouve-se
freqüentemente, a respeito determinadas pessoas, frases com estas: Fulano é
muito humilde, coitado!
Muito
simples! Humildade está significando nestas frases pessoa carente que aceita
qualquer coisa, dependente e até infeliz.
Conceito
errôneo que precisa ser superado, para que a Humildade adquira definitivamente
a sua autenticidade.
Imparcialidade:
É uma
qualidade tão importante que assume as características do dever, pois se
destina a se contrapor aos preconceitos, a reagir contra os mitos (em nossa
época dinheiro, técnica, sexo...), a defender os verdadeiros valores sociais e
éticos, assumindo principalmente uma posição justa nas situações que terá que
enfrentar. Para ser justo é preciso ser imparcial, logo a justiça depende muito
da imparcialidade.
Otimismo:
Em face
das perspectivas das sociedades modernas, o profissional precisa e deve ser
otimista, para acreditar na capacidade de realização da pessoa humana, no poder
do desenvolvimento, enfrentando o futuro com energia e bom-humor.